Recentemente, fomos alvo de uma forte onda de calor que interferiu no clima de todo o país, passando dos 40 °C em algumas cidades. Para suportar este calorão, recorremos aos equipamentos de ventilação e ar-condicionado, além das bebidas geladas para ajudar a refrescar.
Na área da eletricidade, os equipamentos usados para fins de aquecimento ou resfriamento, são os maiores vilões, quando pensamos em consumo de energia. O aumento no uso de ar-condicionado e demais dispositivos de resfriamento, causou também a maior demanda de energia já registrada.
O termo demanda, corresponde à potência elétrica consumida em um intervalo de tempo. No mês passado, o Brasil ultrapassou a taxa de 100 megawatts (MW) de consumo, segundo o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Um novo recorde na demanda máxima de carga de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN). Além da superação da marca, este recorde é importante para refletirmos sobre as condições do sistema elétrico do país.
E se essa onda de calor acontecesse durante um período de baixa nos recursos hídricos, voltaríamos a discutir o fantasma do apagão?
Não podemos deixar cair no esquecimento, quando em 2021 passamos por um período crítico de falta de água e crise no setor elétrico, motivo que fez todo o setor repensar a nossa matriz. Como sabemos, cerca de 92% da matriz elétrica brasileira é composta por fontes de energias renováveis, mas temos que destacar as fontes hídricas, que são responsáveis por mais de 60% da geração de energia elétrica, ou seja, sem água nos reservatórios, os problemas aparecem.
Quando os recursos renováveis, não são suficientes para suprir a demanda do país, a saída é aumentar a geração através das termelétricas que utilizam combustíveis fósseis ou outras fontes não renováveis. Como consequência, as bandeiras tarifárias são alteradas, de acordo com a situação. Esta é uma forma de repasse do aumento nos custos de geração, em função das condições desfavoráveis.
Nos últimos três anos, muitos investimentos foram feitos no setor eólico e fotovoltaico, seja por parte dos governos ou pela iniciativa privada. A gestão dos reservatórios nas hidrelétricas também foi alvo de estudos no período de crise, mas a dependência das hidrelétricas ainda é o grande “calcanhar de Aquiles” do setor elétrico brasileiro.
Atualmente, mesmo com o calor intenso, as chuvas se mantêm regulares e os reservatórios nacionais estão acima dos 65% da capacidade, segundo o ONS. Isso nos permitiu passar pelo recorde de demanda sem qualquer risco de falta de abastecimento ou mudança de bandeira tarifária. Essa é uma demonstração importante da capacidade do nosso Sistema Interligado Nacional (SIN) quando se tem abundância dos recursos.
Se mantiverem os investimentos na diversificação da matriz elétrica e na infraestrutura dos sistemas de transmissão e distribuição de energia, o SIN ganha robustez e permite o fornecimento de energia, ainda que parte dos recursos sofra alguma oscilação, garantindo o bom serviço e a confiabilidade que a população precisa.
*Eduardo da Silva é Mestre em Engenharia Elétrica e Professor no Curso de Engenharia Elétrica do Centro Universitário Internacional UNINTER